Todos
nós sabemos que telepatia não existe. Mas mesmo reconhecendo que a telepatia
não existe, agimos muitas vezes como se ela fosse uma das nossas habilidades.
Essa
ilusão pode se manifestar de duas formas:
þ Por meio da presunção de que sabemos o que os outros
estão pensando e
þ Através da premissa de que os outros não só podem como
têm a obrigação de saberem o que estou pensando sem eu ter de lhes dizer.
É
verdade que às vezes somos capazes de prever reações e comportamentos de
pessoas que conhecemos bem e vice-versa. O problema aparece quando presumimos
que sabemos como alguém vai reagir sempre.
O hábito de presumir
Todo
mundo, em alguma medida, faz suposições acerca dos pensamentos, desejos e
necessidades dos outros. Isso é normal. As premissas são uma espécie de atalho
mental e são fundamentais para que a vida caminhe.
Se
tivéssemos de investigar cada sorriso, cada gesto ou cada expressão casual que
ouvíssemos aqueles que nos cercam não nos tolerariam e nós mesmos viveríamos
cansados.
Em
nossos relacionamentos nós detectamos pistas sobre o outro e extraímos delas
conclusões. A maioria de nós faz isso bastante bem e quase sempre as pessoas
nos dão pistas bem claras a respeito de como estão num certo momento.
Nossos
relacionamentos poderiam ser descritos como um grande trabalho de investigação.
Observamos dicas e as pistas de todo tipo.
Atribuímos
significado ao que vemos e ouvimos e também ao que não vemos e ouvimos.
A
aquilo que aconteceu e também ao que não aconteceu.
Tiramos
conclusão da linguagem corporal (expressões, gestos e posturas) e
Interpretamos
aquilo é dito.
Quando
você era criança e encontrava sua mãe esperando você na porta de braços
cruzados, batendo o pé, com a testa franzida e os lábios comprimidos, você
certamente sabia que ela estava brava.
Se
você encontra uma amiga de cabeça baixa, olhos inchados e o rosto molhado de
lágrimas é difícil concluir que ela está chateada?
Dá
para perceber quando alguém está nervoso, feliz, ansioso ou em qualquer outro
estado de espírito, pois está mais ou menos na cara.
Também
tiramos conclusões daquilo que é falado não apenas ouvindo o que é dito, mas
avaliando o tom de voz, a ênfase, o volume e o contexto da situação.
O
certo, porém, é que mesmo que sejamos todos um tipo de Sherlock Holmes,
investigando tudo ao derredor, precisamos admitir que podemos estar errados.
Erros de interpretação
Quanto
mais conhecemos alguém mais consciência teremos dos sinais que ela emite nas
mais diversas situações. Sempre que está infeliz ela ouve determinada música,
quando está nervosa sempre bate a porta, etc. Essa previsibilidade é que nos
leva à conclusão que sabemos o que o outro está pensando.
Mas
isso pode criar muitos problemas quando acreditamos que sabemos o que se passa:
þ Com todo mundo
þ perfeitamente
þ o tempo inteiro.
Quando
na verdade nós presumimos os pensamentos:
þ de algumas pessoas
þ com alguma exatidão
þ parte do tempo
Vamos
enumerar as razões porque nos enganamos quando acreditamos em tudo o que
presumimos.
1. Você faz suposição
a respeito do outro com base em você mesmo
Veja
o exemplo de Caim. Ele temia ser morto por alguém, mas não havia assassinos na
terra a não ser ele próprio. Ele presumia pensamentos homicidas em outros
porque ele mesmo os tinha.
2. Você faz suposição
com base num comportamento passado
Isso
é previsibilidade. Sem isso os relacionamentos se tornam impossíveis.
Experiências anteriores são uma boa fonte de informação, mas o problema é que
pode ocorrer exceções.
Você
chega em casa sua mãe está na porta, batendo o pé, com os braços cruzados, a
testa franzida e os lábios apertados. Você percebe que sua mãe está brava
porque ela sempre agiu assim quando estava brava. Porém dessa vez pode ser que
ela esteja brava, mas não com você, ou pode estar ansiosa com algo que não
tenha nada a ver com você.
3. Você faz suposição
com base no que imagina que vai acontecer
Isso
é o que comumente se chama colocar o carro na frente dos bois. Nem adianta
convidá-lo para liderar, ele não vai aceitar e se aceitar eu até sei como vai
ser.
Você
não tem como saber a reação do outro antes de fazer o convite e não tem como
saber de antemão como ele se sairá na liderança.
O
pior é que se a pessoa aceitar o convite e se tornar um líder, você vai
interpretar cada atitude dela de forma a confirmar suas pressuposições.
4. Você faz suposições
com base no que deseja
Sua
ex-noiva liga para você para lhe dar os pêsames pela morte de seu pai. Você
logo pensa: ela ainda me ama. Só pode me amar, caso contrário não me ligaria.
Pode
ser que sim, pode ser que não. Mas antes de sair e comprar uma aliança é melhor
confirmar os sentimentos dela.
5. Você chega a uma
conclusão com base em dados insuficientes
Duas
curvas não formam necessariamente um círculo. A reação negativa de uma ou duas
pessoas não indica necessariamente a opinião de toda a igreja.
Você
conclui: minha igreja não gosta da minha pregação. Mas foi apenas uma pessoa
que fez a crítica
6. Você interpreta mal
as dicas visuais e verbais
Só
porque você captou corretamente o estado de espírito de alguém não quer dizer
que você vai acertar também na causa do problema. E mesmo que tenha acertado a
causa no passado não quer dizer que vai acertar dessa vez.
Você
conclui: minha igreja não gosta da minha pregação. Já é o segundo irmão que
dorme durante a pregação.
7. A sua conclusão não
leva em conta a existência de diferenças culturais e de personalidade
Eles
certamente não gostaram da minha pregação. Não ouvi nem um “amém”.
Desarmando a bomba da
mania de presumir
É
absolutamente vital desistirmos de tentar usar telepatia. Mas isso é difícil
porque implica em se tornar vulnerável e correr riscos. A telepatia evita a
necessidade de falarmos claramente e talvez descobrirmos que a nossa suspeita é
realmente verdadeira.
Parece
mais confortável viver presumindo do que se expor e saber a verdade.
Precisamos
reconhecer que ainda que seja útil em muitas ocasiões, o hábito de presumir nem
sempre dá certo.
1. Reconheça o tipo de
pensamento
O
primeiro passo é dar nome aos bois. Ao percebermos que estamos nos irritando
com um líder por algo que acreditamos que ele está pensando, antes de
confrontá-lo podemos simplesmente nos questionar: será que sei realmente o que
ele está pensando? Será que não estou presumindo?
2. Questione suas
premissas
O
líder não veio na reunião de discipulado. Você presume que ele não deseja estar
com você. Mas quais evidências você tem para afirmar isso? Ele pode ter faltado
por inúmeras razões. Ele já faltou anteriormente? Ele se justificou? Porque
você não aceitou as justificativas?
3. Crie uma imagem
melhor do outro
Isto
é o mesmo que dizer: seja benigno. Em vez de alimentar uma imagem daquele líder
como alguém que o resiste ou não tem compromisso, substitua essa imagem por
algo positivo. Com base nessa nova imagem tente agora reinterpretar os fatos
tirando novas conclusões.
4. Expresse claramente suas conclusões
Nem
sempre é possível ou desejável se expressar claramente. Há pessoas que se
sentem muito pressionadas quando abordas diretamente e algumas vezes não dá
para perguntar para a igreja inteira sua opinião a nosso respeito. Mas falar
claramente deve ser o nosso padrão com aqueles que nos são mais próximos.
5. Creia na resposta
do outro
Uma
vez que perguntamos ao outro se as nossas conclusões a respeito dele são reais,
precisamos acreditar naquilo que ele disser. É melhor eventualmente ser traído
que viver desconfiado e Jesus disse que a nossa palavra deve ser sim sim e não
não. O que passa disso vem do
maligno.