"E Deus amou o mundo de tal maneira, que entregou o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna" João 3.16

Sacuda o pó: é uma ordem!


por Drummond Lacerda





No décimo capítulo de Mateus, Jesus dá várias ordens aos discípulos que Ele está enviando: pregar, curar os enfermos, ressuscitar os mortos, etc. (Mt 10.7-14). Ao falar sobre o trabalho dos discípulos, o Mestre também dá uma ordem a respeito do que fazer se eles forem rejeitados: “E, se ninguém vos receber, nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó dos vossos pés” (Mt 10.14). O gesto é simbólico, porém, muito eloquente. Pés na Bíblia representam caminhos, escolhas. O pó representa o que estava no lugar da rejeição e se apegou às sandálias. O que Jesus estava dizendo em outras palavras é: Não deixe que a rejeição que aconteceu nesse lugar fique agarrada aos seus próximos caminhos e escolhas.

Analisar a direção de sacudir o pó das sandálias mostra que Jesus não apenas diz o que fazer, mas como devemos reagir quando não aceitarem o que Ele nos chamou para realizar. O Mestre não nos preparou só para triunfos, Ele nos ensinou a lidar com os fracassos. Algumas pessoas utópicas não conseguem ver derrotas no futuro e acreditam que quem vê dificuldades é pessimista. As definições contemporâneas do que é otimismo e pessimismo precisam se converter a Cristo. O otimismo do Cristianismo é capaz de ver necessidades, no entanto, enxerga em Deus a capacidade de resolvê-las. O otimismo de Cristo vê uma grande tarefa; contudo, não fica cego às dificuldades. Não apenas acredita nas vitórias, mas sabe se levantar dos fracassos. Não contempla apenas o sacrifício, mas sabe enxergar a glória da recompensa.

Ele nos ensinou que saber lidar com as derrotas é fundamental para o próximo lugar que nossas sandálias pisarem. As próximas cidades que iremos não podem ter a sujeira da rejeição de onde pisamos. Muitos continuam contaminando lugares limpos com a “poeira” que não retiraram dos lugares sujos. Para ter relacionamentos realmente novos precisamos limpar a sujeira que relações antigas causaram. O futuro precisa de um passado resolvido.

Na Bíblia, o pó fala de quem somos (Gn 3.19). Nossa identidade, ações e responsabilidade. Sacudir o pó também era dizer que a responsabilidade daquela rejeição não estava sobre os apóstolos, mas sobre quem a praticou. É verdade que algumas ações das pessoas à nossa volta são consequências de nossas escolhas. No entanto, precisamos reconhecer que existem atitudes que as pessoas tomam que são responsabilidades apenas delas. Nada temos a ver com isso. A palavra diz: “Ide e pregai o evangelho a toda criatura quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16.15,16). A salvação ou condenação de uma pessoa não é mais responsabilidade do pregador, mas de quem ouviu a mensagem. Trazemos “a poeira da responsabilidade” demais em nossa caminhada e não percebemos por que estamos parando de usar as sandálias da pregação do evangelho. Viva o evangelho com toda sua força, tentando ser o melhor que pode; contudo, não carregue sobre você o peso de escolhas que só as pessoas podem tomar. Sacuda o pó: essa é a ordem de quem lhe ama muito!