"E Deus amou o mundo de tal maneira, que entregou o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crer, não pereça, mas tenha a vida eterna" João 3.16

Erros na Educação dos Filhos

“Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus”. Deuteronômio 8.5

-Introdução: A educação dos filhos é um desafio que se revela cada vez maior a todo instante para os pais. Diante de um mundo com valores invertidos e com uma proposta de liberdade, os pais precisam tomar uma posição sobre como educar seus filhos. Todas as pessoas são passíveis de erros, inclusive os pais. Contudo os erros dos pais comprometem o futuro de seus filhos. Por isso os pais precisam minimizar ao máximo estes erros. Uma forma de aprender é seguir bons exemplos e também evitar erros já conhecidos.
Como você tem educado seu filho?
Reflita em alguns erros na educação de filhos usando palavras coincidentemente com ‘p’ de paternidade:




1- PATERNALISMO – Davi:
Davi foi um bom filho, um bom instrumentista, bom guerreiro e excelente rei de Israel, mas como pai deixou muito desejar com seus filhos. Provavelmente porque estava sempre ocupado em batalhas e compromissos da monarquia (I Reis 1.6). Contudo o relacionamento de Davi com seus filhos demonstra ser bom. Não os maltratava ou deixava faltar o que precisassem. Entretanto àqueles filhos faltava a presença paternal e a correção quando necessário (II Samuel 18.5). As consequências foram desastrosas. Seu filho Amnom estuprou a própria irmã cometendo incesto (II Samuel 13), Absalão matou o seu irmão Amnom (II Samuel 13.23) e depois disso se rebelou contra seu pai Davi (II Samuel 17.27 e 18.18). Adonias também tentou usurpar do trono quando Davi estava velho e demorava em determinar seu sucessor (I Reis 1.5).
O paternalismo é considerado uma falta de posicionamento diante dos problemas. Muitos pais tentam se mostrar bons, mas na verdade precisam também mostrar firmeza. Na hora da resposta ou decisão os filhos podem achar o pai duro, mas depois sentirão segurança de um homem que sabe o que é melhor.
Pais: sejam firmes com seus filhos!

2- PROTECIONISMO - Moisés:                                                                                
Moisés não havia circuncidado seu filho que teve em Midiã com Zípora filha de Jetro. O texto não diz qual dos dois filhos ficou sem circuncidar, ou o motivo deste descuido. Talvez Moisés, como muitos pais, tenha ficado condoído do filho, por causa das dores da circuncisão. Mas com isso estava deixando seu descendente sem a marca da Aliança de Deus com seu povo (Gênesis 17.9-14). Por isso Deus ascendeu sua ira sobre ele (leia Êxodo 4.24-26). Deus iria castigar Moisés por sua desobediência, “então, Zípora tomou uma pedra aguda, cortou o prepúcio de seu filho, lançou-o aos pés de Moisés... assim o Senhor o deixou” (Êxodo 4.25,26).
Quando Jetro vai ao encontro de Moisés para levar seus filhos e sua esposa de volta, demonstra que a família de Moisés estava ausente durante sua travessia pelo deserto (Êxodo 18.1-6). Provavelmente Moisés estava tentando proteger seus filhos das dificuldades que enfrentariam, mas Deus estava cuidando de seu povo e não havia porque privar sua própria família de experimentar os milagres de Deus.
A superproteção de muitos pais impede que os filhos enfrentem dificuldades comuns da vida, com isso vão ficando imaturos e quando finalmente precisam encarar os desafios, estes se tornam ainda mais dolorosos. Quanto mais cedo os filhos aprenderem a suportar os problemas da vida, mais preparados estarão para o futuro.
Pais: protejam seus filhos, mas deixe-os aprender a lutar!

3- PERMISSIVIDADE - Eli:
O sacerdote Eli foi repreendido por Deus através de Samuel por causa dos pecados de seus filhos. Hofni e Finéias atuavam como sacerdotes junto com seu pai (I Samuel 1.3), mas na verdade se portavam como “filhos de Belial” (I Samuel 2.12) e se prostituíam (I Samuel 2.22). Embora Eli tenha repreendido seus filhos uma vez (I Samuel 2.23), não usou da severidade necessária, permitindo que continuassem a ministrar como sacerdotes. Deus levantou um profeta para advertir Eli sobre os pecados de seus filhos (I Samuel 2.27-36).
O menino Samuel foi levantado por Deus para suceder Eli no ministério sacerdotal e também relatou o aviso de Deus quanto aos filhos de Eli (I Samuel 3.11-14). Mesmo sabendo da mensagem Divina, Eli não tentou mudar a situação intercedendo por seus filhos, pedindo perdão, ou mesmo os repreendendo, antes se conformou respondendo a Samuel “é o SENHOR; faço o que bem lhe aprouver” (I Samuel 3.18). O que Deus falou aconteceu quando “foi tomada a arca de Deus, e mortos os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias” (I Samuel 4.11). O próprio Eli não suportou tamanha tristeza e caiu para traz morto de tristeza (I Samuel 4.13).
Muitos pais deixam os filhos fazer o que querem e depois não conseguem mais controla-los. Os pais liberais são incentivados pela mídia e por um modo de vida libertina. As consequências disso estão nas estatísticas de tantos jovens mortos precocemente, escravos de vícios ou atrás das grades de uma prisão. Tudo isso por que não aprenderam a ter limites e em busca de tanta liberdade acabam presos.
Pais: ensinem limites a seus filhos!

4- PARCIALIDADE - Abraão:
Abraão mentiu duas vezes dizendo que sua esposa Sara era sua irmã (Gênesis 12.10-20 e 20.1-18), o que era uma meia verdade, pois Sara era mesmo sua parenta, contudo era sua esposa. Mais tarde Isaque repetiu o mesmo erro de se pai mentindo que Rebeca seria apenas sua irmã (Gênesis 26.6-10). Em todos os dois casos as consequências só não foram maiores porque as pessoas perceberam a tempo. Abraão também foi parcial quando tomou partido de Sara e deixou abandonado seu filho Ismael com a mãe Agar (Gênesis 21.14).
Muitos pais são homens de “ânimo dobre” (Tiago 1.8), mostrando duas formas de ser, uma dentro de casa e outra fora. Isso confunde os filhos, que ficam sem saber para que lado vão. No futuro, estes filhos muitas vezes se decidem pelo pior lado. Então estes mesmos mais dizem: ‘mas eduquei meus filhos na igreja’, contudo foram parciais e não serviram ao Senhor de todo o coração (Marcos 12.30). A verdade por mais dura que seja sempre será o melhor para os filhos, libertando-os de todo engano (João 8.32).
Pais: não sejam parciais com seus filhos!

5- PROJEÇÕES - Isaque:
Isaque e Rebeca projetaram sobre seus filhos os seus problemas pessoais, porque “Isaque amava a Esaú, porque se saboreava de sua caça; Rebeca, porém, amava a Jacó” (Gênesis 25.28). Por culpa de suas preferências pessoais, seus filhos ficaram divididos. Mais tarde Jacó trapaceou Esaú enganando também seu pai com ajuda de sua mãe (Gênesis 27.1-46). Por muitos anos estes dois irmãos não se encontraram até conseguirem se perdoar (Gênesis 33.4). Suas vidas se distanciaram tanto, que à semelhança de muitas famílias, se encontraram poucas vezes como para enterrar seu pai (Gênesis 35.29).
Muitos pais fazem isso com os filhos, projetando sobre eles os seus problemas pessoais ou conjugais, bem como seus sonhos e ideais querendo realizar em seus filhos o que não conseguiram. Também acontece que a casa fica dividida (Marcos 3.25) quando mãe diz uma coisa e o pai outra, então os filhos ficam servindo a “dois senhores” (Mateus 6.24). Os filhos precisam de liberdade para assumir sua própria identidade, embora consequentemente herdem de seus pais características normais.
Pais: não projetem seus problemas sobre os filhos!

6- PREFERÊNCIAS - Jacó:
Jacó deixava claro sua preferência por José, pois “Israel amava mais a José que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica talar de mangas compridas” (Gênesis 37.3). Esta forma de tratar José diferente dos outros irmãos gerou ciúmes que os levaram a lançar José numa cisterna e depois o vender como escravo, mentindo para seu pai que havia morrido (Gênesis 37.23,28 e 33). Com isso os irmãos de José queriam chamar a atenção do pai. Somente depois de muitos anos toda a verdade foi revelada e aquela família conseguiu se reunir novamente através do perdão (Gênesis 45.15).
Existem famílias que não conseguem se restaurar como a de Jacó conseguiu. Muitos irmãos preferidos e injustiçados não perdoam como José perdoou. Nem todos os irmãos preteridos como os irmãos de José conseguem reconhecer seus erros. Infelizmente existem erros que são irreparáveis. Por isso os pais devem se esforçar por tratar os filhos igualmente.
Pais: não tenham preferência por um filho apenas!

7- PROVISIONISMO – pai do filho Pródigo:
O pai do filho Pródigo providenciou imediatamente o que o filho pediu (Lucas 15.12). Embora este pai nos dê um exemplo de paternidade aberta para perdoar o filho que errou, mas será que não houve algum erro deste pai antes da saída do filho? Por que este filho queria ir embora de casa? Estas questões estão em aberto e sem respostas exatas, o que deixa espaço para questionarmos e buscar alternativas dentre fatos comuns às famílias atuais.
Observação: Faço esta reflexão reconhecendo ser uma conjectura e sem jamais desmerecer o lindo exemplo do pai acolhendo o filho. Também não deixamos a interpretação teológica comparando o pai com Deus e o filho com o pecador, mas agora estamos fazendo uma aplicação para as famílias.
Muitos pais e filhos querem fazer prodígios, ou seja, realizar grandes coisas e com isso acabam deixando faltar em suas famílias. Apenas dar o que os filhos pedem não é o suficiente. Os pais não devem apenas ser provedores de necessidades dos filhos, mas sua presença e cuidado é o que mais necessitam. Se os pais começam a fazer tudo o que os filhos pedem, estes se tornam mimados e sempre querem mais, sem ter limites. Um dia a vida diz não para os mesmos, que estarão despreparados para repostas negativas e por isso fica em crise.
Pais: não façam tudo o que os filhos pedem!

Eduque seus filhos na presença do Senhor!

-CONCLUSÃO:
A Palavra de Deus diz que a melhor forma de educação é “criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito” (I Timóteo 3.4). Os exemplos citados podem ajudar os pais a eliminar comportamentos nocivos aos seus filhos como o paternalismo, o protecionismo, permissividade, parcialidade, projeção, preferências e provisionismo. O caminho estreito é o mais difícil, mas a porta larga conduz a perdição (Mateus 7.13).

Pais, clamem a Deus por seus filhos!



Igreja: O Jardim de Deus

A Igreja de Deus é um jardim, assim chamada no livro de Cantares de Salomão; portanto, sei que não estamos errados em usar esta ilustração.

Mas o que representa um jardim?

Em primeiro lugar, ele implica separação.
Um jardim não é uma terra não cultivada, um matagal, uma terra pública, nem tão pouco um deserto. Ele é cercado ao redor; está encerrado ali. Ah, cristãos! quando vocês se unem a Igreja, lembrem-se, também, que se tornam, por profissão, guardados nela, para o Rei Jesus. Eu desejo, sinceramente, ver a parede de separação entre a Igreja e o mundo tornar-se mais ampla e forte. Creiam-me, nada me entristece mais do que quando ouço membros da Igreja dizendo: "Bem, não há nenhum mal nisto; não há mal naquilo", e vão se aproximando do mundo tanto quanto possível. Não importa o que você pense disto, mas estou certo que você está decaindo da graça até mesmo quando você levanta a questão de quão longe você pode ir na conformidade mundana. Devemos evitar a aparência do mal, e especialmente nesta época festiva do ano, este natal, quando tantos de vocês estão tendo suas festas, suas brincadeiras de crianças e todo aquele tipo de coisa.

Eu queria vocês duplamente zelosos e recordados, membros de igreja, de que vocês são cristãos sempre, se de fato o são. Não podemos conceder dispensações ao pecado, como a Igreja Católica fez nos dias de Lutero. Vocês devem estar sempre vestidos com suas fardas, como soldados de Cristo, e nunca, em tempo algum, dizer: "Bem, eu vou fazer isto só agora; é somente uma vez no ano; farei como o mundo faz; não posso ficar fora de moda" .

Você deve estar fora de moda, ou fora da Igreja verdadeira, lembre-se disto, porque o lugar da Igreja de Cristo é inteiramente fora dos costumes do mundo. Vocês são chamados para ir avante sem o regimento, suportando sua reprovação. Se você quer ficar no acampamento, você não pode ser um discípulo de Cristo, pois o amor do mundo é inimizade com Cristo. Você deve ser separado ou ser perdido. Se você quer ser comum, você não pode ser jardim; e se você está desejoso e ansioso para ser jardim, ora, então, não procure ser o comum. Mantenha as cercas levantadas; mantenha os portões bem trancados; os jardins do rei não devem ser deixados abertos para ladrões e salteadores.

Não se conforme com o mundo, mas seja transformado pela renovação da sua mente.


O jardim do Rei é um lugar separado - guarde isto.

O jardim do rei é um lugar de ordem.
Quando você vai para o seu jardim, você não encontra as flores todas espalhadas de qualquer modo, mas o jardineiro sábio as dispõe de acordo com suas matizes e colorações, de modo que no meio do verão o jardim pareça com um arco-íris que tenha sido quebrado em pedaços e deixado sobre a terra, prazeroso de se contemplar. Todos os cercados são regulares, os canteiros proporcionais, e as plantas bem arrumadas, como deveriam ser. Tal deveria ser a Igreja cristã - pastores, diáconos, presbíteros, membros, todos em seus devidos lugares. Nós não somos um monte de tijolos, mas uma casa. A Igreja não é um mero montão, mas é para ser um palácio construído para Deus, um templo onde Ele se manifesta. Vamos todos tentar manter ordem na casa de Cristo, e acima de tudo, detestar discórdia e confusão. Sejamos homens que sabem como manter a dignidade, mantendo uma ordem apropriada e regularidade em todas as coisas. Nós buscamos não uma ordem que consista em todas as pessoas dormindo em seus lugares, como corpos em catacumbas, mas desejamos a ordem que encontre todos trabalhando em seus lugares para a causa comum do Senhor Jesus.

Que nós nunca sejamos uma Igreja desordenada, desunida, irregular. 


Que possa haver ordem no jardim, preservada pelo poder do amor e graça.


O jardim é um lugar de beleza. 


Tal deveria a Igreja de Cristo ser. Você colhe as mais belas flores de todas as terras, e coloca-as no seu jardim, e se não há beleza nas ruas, você espera que haja nos canteiros do floricultor. Então, se não existe santidade, amor, zelo, nem devoção fora, no mundo, que possamos ver estas coisas na Igreja. Não devemos tomar o mundo como nosso guia, mas devemos excedê-lo. Devemos fazer mais do que outros. O Senhor Jesus Cristo disse a seus discípulos que a justiça deles deveria exceder, em muito, a dos escribas e fariseus, ou eles não poderiam entrar no reino; e o genuíno cristão deve buscar ser mais excelente em sua vida do que o melhor dos moralistas, porque o jardim de Cristo deve ter as mais belas flores de todo mundo. Mesmo o melhor é pouco comparado com os méritos de Cristo; não O coloquemos com plantas murchas e secas.

Os lírios e rosas mais raros, valioso e finos devem florir no lugar que Jesus chama de seu.


O jardim do rei é um lugar de crescimento, também. 


Não acho que o floricultor pudesse pensar que o solo no qual suas plantas não crescem, é próprio para ser um jardim. Seria um desperdício total para ele, se as mudas continuassem mudas e os botões nunca se tornassem flores. Assim na Igreja de Deus. Não somos introduzidos na comunhão para sermos sempre os mesmos, sempre crianças e bebês na graça. Devemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Reuniões de oração deveriam ser escolas de educação prática para nossos amados jovens membros; um lugar onde os pequenos pássaros tentem alçar vôo. Se eles tentarem orar, talvez no princípio possam quase falhar, mas se não derem espaço para uma timidez tola, eles logo a superarão e se acharão úteis, não só nas orações públicas, mas em milhares de deveres úteis, também.

O crescimento deve ser rápido onde Jesus é o lavrador e o Espírito Santo o orvalho do alto. 

Mais uma vez, um jardim é um lugar de retiro. 
Quando um homem está em seu jardim, ele não espera ver todos seus clientes andando entre os canteiros para fazer negócios com ele. "Não", ele diz, "estou andando no meu jardim e espero estar só". Assim o Senhor Jesus Cristo nos reservou a Igreja para ser um lugar onde Ele pode manifestar-se a nós, do modo como Ele não o faz ao mundo. Ó, eu desejo que os cristãos sejam mais quedados, e mantivessem seus corações mais calados para ouvir a Cristo! Receio que freqüentemente nos preocupamos e agitamos, como Marta, com muito serviço, de tal modo que não temos um tempo para Cristo como o que Maria teve, e não nos sentamos aos Seus pés como deveríamos fazer.



O Senhor nos conceda graça para manter nossos corações como jardins isolados para que Cristo ande neles.


Esta, então, é uma pobre descrição do que a Igreja é; e a partir de agora, muito resumidamente, trataremos de quem ela é.


A Igreja é um jardim, mas é o jardim do Rei.
A Igreja não é minha, nem de vocês, mas do Rei. É o jardim do Rei, porque Ele a escolheu para Si.

"Somos um jardim, ao redor protegido,


propriedade particular, escolhido;
Um pequeno lugar pela graça cercado,
Fora do mundo, este deserto descerrado."


Somos do Rei, porque Ele nos comprou.

Nabote disse que não entregaria sua vinha porque a tinha herdado. Assim também, Cristo nos recebeu por herança através de um título irrevogável. Somos Sua herança, e Ele tão ternamente nos comprou com Seu próprio sangue, que nunca nos entregaria, abençoado seja Seu nome! Somos dEle, porque nos conquistou. Ele nos ganhou numa justa batalha e agora nós reconhecemos a validade da Sua escritura, e confessamos, cada um de nós, como membros da Igreja, que somos dEle e que Ele é nosso.

Que nobreza isto confere à Igreja de Cristo!

Algumas vezes escuto pessoas falando afrontosamente das reuniões de igreja; podem estar presentes poucas pessoas, algumas delas podem ser jovens membros, outras muito idosas, ainda assim, eu me ofendo quando ouço pessoas menosprezarem tal encontro, pois Cristo não o desprezaria. Sempre que a Igreja se reúne, tanto como um todo, ou representativamente, há uma dignidade solene sobre aquela assembléia que não é encontrada num parlamento de reis e príncipes. Se Napoleão pudesse formar um senado com todos os potentados deste mundo, em Paris, e tivesse um congresso lá, todos eles juntos não se comparariam com uma meia dúzia de mulheres idosas piedosas que estivessem juntas, como Igreja, no nome de Cristo, em obediência ao mandamento do Senhor; pois Deus não estaria com os potentados, mas estaria com o mais humilde e desprezado do seu povo que reúne-se como Igreja no nome de Jesus. "Eu estou com vocês até o fim do mundo" é mais glorioso do que arminho, ou púrpura, ou coroa.

Fazer parte da Igreja no nome de Cristo, e reunir-se como tal, suplanta qualquer assembléia sobre a face da terra, e até mesmo a assembléia celeste dos nascidos primeiros, é somente uma parte do grande todo no qual as assembléias da Igreja na Terra, são parte essencial.


A Igreja é o jardim do Rei. 

Agora pergunto: 
"Mas se a Igreja é um jardim, de que ela precisa?"

Uma coisa que certamente requer, é trabalho. 

Você não pode manter um jardim em ordem sem trabalho. Precisamos de mais trabalhadores nesta Igreja, especialmente de uma espécie. Precisamos de alguns para ser agricultores.

Eu recebi uma carta semana passada, de uma moça; eu não a conheço, mas ela disse que tem vindo aqui por dois anos; que anseia por sua alma, e freqüentemente tem desejado que alguém falasse com ela, mas ninguém o faz. Se eu soubesse onde ela senta, eu diria para os amigos que sentam lá, que me envergonho deles! Não sei como vocês deixam uma pessoa vir a este Tabernáculo por dois anos sem nunca falar com ela! Alguém tem sido negligente, muito negligente. Não digo que vocês devam falar sobre as melhores coisas na primeira vez que os virem, apesar de tentarem fazer isto a qualquer custo; mas como estar em silêncio por dois anos? Vocês vêm duas vezes no domingo, e aquela jovem também; bem, houve duzentas oportunidades que você perdeu; duzentas vezes que vocês deixaram aquela pobre alma ir embora, queimando, sem falar com ela!

Eu quero trabalhadores, reais e esforçados ganhadores de alma. 
Eu quero agricultores que coloquem a muda onde ela crescerá. 
Eu quero ajudantes que apanhem o cordeirinho, assim que nasçam, e o carreguem em seu peito por algum tempo;

enfermeiros espirituais que dêem conforto aos de coração quebrantado e que coloquem o óleo da consolação nas feridas dos pobres pecadores vacilantes.Em cada igreja deve haver quem olhe por aqueles que foram plantados. Quando recebemos membros, devemos olhar por eles, e como uma só pessoa não pode fazê-lo totalmente, e mesmo os presbíteros e diáconos dificilmente serão em número suficiente para tão grande trabalho, deveria ser o propósito e dever de todo cristão experiente na igreja cuidar, atenciosamente, dos inexperientes.

Creio que muitos de vocês fazem isto, e sou muito agradecido aos amigos zelosos que não tem ofício na igreja, mas que fazem um grande trabalho na visitação dos enfermos e no cuidado com os neófitos. Só o que eu quero é que todos vocês façam o mesmo. Ó! se todos nós estivéssemos devidamente preocupados em manter este jardim em ordem, quão bem tratado toda a bordadura seria, e quão poucas ervas-daninhas encontraríamos brotando nos canteiros! Posso perguntar-lhes, membros de igreja, se vocês estão fazendo seus deveres pelo jardim de Deus? Vocês são seus escolhidos e Ele trabalhou por vocês de forma que não precisam fazer nada para obter a salvação; mesmo assim, você não deve ser inativo, pois o seu Senhor disse para você: "Vá, trabalhe hoje na minha vinha". Você está fazendo isto? Agradeço-lhe se estiver. Se não, acusem-se.

Deveria existir uma pequena laçada em cada igreja, para recolher os espalhados. Nossas videiras crescerão desordenadamente se lhes for permitido, mas devemos lidar sabiamente com elas, e fixá-las em seus lugares. Devemos estar alertas onde vemos apostasia começar. Quanto pode ser feito por cristãos maduros, na tentativa de deter a apostasia entre os mais novos! Creio que metade dos casos de declínio, podiam ter sido detidos através de uma pequena providência judiciosa, se os crentes a tivessem tomado em tempo.Eu digo outra vez, o que nós, que somos os oficiais desta igreja, podemos fazer com tantos? Ora, nós somos mais do que três mil e quinhentos membros; mas, se vocês zelarem uns pelos outros, e procurarem, sempre que verem um pequeno declínio, uma pequena frieza, trazer de volta o seu irmão, o jardim do Rei será bem cuidado.

O jardim do Rei necessita de trabalhadores; que todos vocês trabalhem e esta necessidade será satisfeita. Algumas vezes, irmãos, precisamos queimar o entulho e varrer as folhas. Na melhor da igrejas sempre haverá folhas caindo. Nenhum de nós é perfeito. Sempre há algumas folhas em redor e não pouco cisco para ser colocado num canto e queimado. Posso pedir a um irmão, sempre que ele vir algum erro, para varrê-lo e não comentar nada com ninguém. Sempre que vocês acharem que aquele tal irmão está se portando inconvenientemente, falem com ele sobre isto com quietude; não espalhe por toda a igreja e produza desconfiança e suspeita. Pegue a folha e a destrua. Quando um irmão o ofender, de forma que o aborreça, perdoe-o; porque, eu ouso dizer, você necessitará de perdão um pouco mais tarde. Nenhum de nós, talvez, tenha o mais doce dos temperamentos, mas, se o temos, a forma de prová-lo é perdoando aqueles que não o tem. Se todos nós buscarmos fazer a paz, nunca haverá discórdia no jardim do Rei que O possa incomodar; mas quando Ele andasse no seu jardim, o acharia bonito e em ordem, e todas as flores brotando encantadoramente, e Ele encontraria prazeres com os filhos dos homens.

Eu disse que a igreja necessita de trabalhadores, mas, queridos amigos, ela necessita de algo mais. Necessita de novas plantas. Desejo achar algumas hoje a noite. Nosso Rei encontra plantas para seu jardim fora do muro. Ele toma os galhos da oliveira selvagem e os enxerta na boa oliveira, e então, a seiva faz a mudança. Que coisa estranha! Não é assim em nossos jardins, mas maravilhas são feitas no jardim do Rei. Ele transporta ervas-daninhas do monturo e as faz crescer como lírios no meio do seu belo jardim. Vocês serão tal planta? Que o amor do Mestre possa constrangê-los a desejar ser uma delas, e, se quiserem, vocês conseguirão. Confie no Senhor Jesus Cristo e você será dEle. Descanse somente nEle, e você será uma planta que foi plantada por Sua mão direita e nunca será arrancada. Deus conceda que vocês floresçam nos céus.


Mas, queridos amigos, todos os trabalhadores e todas as plantas novas, não serão o que a igreja requer, se ela não tiver alguma coisa mais, pois todo jardim necessita de chuva e sol. Esta igreja nunca prosperaria sem o orvalho do Espírito Santo e o sol do favor divino. Temos tido esta bênção grandemente. Devemos orar para que tenhamos mais. Gostaria de saber de vocês: quanto tempo faz que não vem a uma reunião de oração? Bem, vocês não tem vindo ultimamente porque é época de natal. Muito bem, não esperava vê-los; e, se esperasse, teria sido desapontado. Mas não era época de natal até outubro, e vocês não estavam aqui também. Alguns de vocês muito raramente vem. Se vocês são legitimamente impedidos em casa, eu nunca pediria que viessem, ou os repreenderia por dedicarem-se aos seus deveres domésticos, pois vocês não tem o direito de deixar negócios legítimos, que devem ser feitos, para estar aqui. Mas, estou certo que alguns de vocês são desocupados, e poderiam vir se quisessem. Eu oro ao Senhor para mandar-lhes um chicote na forma de peso em suas consciências, até que venham, pois quando nosso número declina, nos enfraquecemos em nossas orações; e sempre que desprezamos os cultos da noite, no meio da semana, estejam certos de que o poder da piedade se vai, pois os cultos do meio da semana distinguem, bem, um homem. Qualquer hipócrita virá no domingo, mas um homem precisa ter algum interesse no culto religioso para ser encontrado no meio do povo de Deus em oração.

Devo crer que alguns de vocês não se interessam se almas são ou não salvas? 
Devo crer que alguns de vocês não se interessam se seu pastor é ou não abençoado? 
Devo crer que vocês continuam membros de uma igreja na qual não tem interesse? 
Devo crer que não significa nada para vocês se Cristo é desprezado ou exaltado? 

Eu não acreditarei nisto, e contudo suas ausências das reuniões de oração tendam a me fazer temer que seja assim. Eu imploro a vocês: corrijam-se nesta questão, e assim como o jardim do Rei precisa de chuva e sol, e não podemos esperar ter isto sem oração, não nos esqueçamos de nos congregarmos, como é costume de alguns.

Ó, mais orações e mais pessoas que orem! e por aqueles que oram, orar com mais fervor e mais constância na súplica! Um favor eu pediria. Se vocês não vem às reuniões de oração, e muitos, eu sei, não podem, e eu não estou falando com vocês, nem os culpando, orem em família, orem em secreto por nós. Não nos deixe ser escasso em oração. É muito ruim vir a ser pobre financeiramente, porque nós necessitamos disto para mil causas e não podemos continuar sem ele. Mas podemos fazer melhor sem dinheiro do que sem oração. Devemos ter suas orações. Eu quase digo que se não nos derem suas orações diárias, desistam de sua comunhão, pois não é proveitosa para vocês e não pode ser útil para nós.

O mínimo que um membro de igreja pode fazer é suplicar a Deus que derrame suas bênçãos.

É o jardim do Rei, e vocês não orarão por ele? 
É o jardim onde Ele sente prazer em estar, e o qual Ele adquiriu com Seu sangue; suas orações 
não subirão em favor do florescimento desta igreja e para que Seu reino venha?


Por último, o que este jardim produz?
Algumas vezes em nosso jardim temos uma árvore que está tão carregada de frutos que temos que colocar escoras em seus galhos; existem um ou dois deste tipo nesta igreja, que carregam muito fruto para Deus e são tão fracos, fisicamente, que sua própria frutificação no zelo e dedicação parece que os quebrarão.

Eu oro a Deus que com Sua promessa graciosa possa sustentá-los. Temo, porém, que este não seja o retrato da maioria de nós.

As vezes você diz ao jardineiro: "Aquela árvore dará frutos nesta estação? Já era hora deles aparecerem". Ele olha, olha e olha de novo, e por fim o bom homem diz: "Acho que estou vendo um pequenino lá no topo, senhor, mas não sei se dará muito". Esta, receio, é a fotografia de muitos professos. Há fruto, ou então eles não seriam salvos, mas é "um pequenino".



Que sua oração seja, não somente por fruto, mas por muito fruto e que Deus possa enviá-los. Lembre-se, se existir algum fruto, ele pertencerá ao Rei. Se uma alma é salva, Ele deve ter a glória por isso.

Se algum avanço é feito na grande causa da verdade e da justiça, a coroa deve ser posta na cabeça dEle. Os guardiões da vinha podem receber suas centenas, mas o Rei mesmo deve receber seus milhares vezes dezenas de milhares, pois Ele merece tudo.

- por Charles Haddon Spurgeon (1834-1892)



Os Discípulos e os Frutos da Palavra de Deus

Lucas 8:4-15: “Reunindo-se uma grande multidão e vindo a Jesus gente de várias cidades, ele contou esta parábola:
 'O semeador saiu a semear. Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a 
comeram. Parte dela caiu sobre pedras e, quando germinou, as plantas secaram, porque não havia umidade. 
Outra parte caiu entre espinhos, que cresceram com ela e sufocaram as plantas. Outra ainda caiu em boa terra. 
Cresceu e deu boa colheita, a cem por um'. Tendo dito isso, exclamou: 'Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça!' Seus discípulos perguntaram-lhe o que significava aquela parábola. Ele disse: 'A vocês foi dado o conhecimento dos mistérios do Reino de Deus, mas aos outros falo por parábolas, para que ‘vendo, não vejam; e ouvindo, não entendam’. 'Este é o significado da parábola: A semente é a palavra de Deus. As que caíram à beira do caminho são os que ouvem, e então vem o diabo e tira a palavra dos seus corações, para que não creiam e não sejam salvos. As que caíram sobre as pedras são os que recebem a palavra com alegria quando a ouvem, mas não têm raiz. Creem durante algum tempo, mas desistem na hora da provação. As que caíram entre espinhos são os que ouvem, mas, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas preocupações, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não amadurecem. Mas as que caíram em boa terra são os que, com coração bom e generoso, ouvem a palavra, a retêm e dão fruto, com perseverança'”.

SEÇÃO I. A NATUREZA DA PALAVRA FALADA AQUI.

1. Este Evangelho trata dos discípulos e dos frutos que a Palavra de Deus desenvolve no mundo. Ele não fala da lei nem das instituições humanas, mas, como o próprio Cristo diz da Palavra de Deus, que ele próprio prega como semeador, pois a lei não dá fruto, tampouco as instituições dos homens. Porém Cristo estabelece aqui quatro tipos de discípulos da Palavra divina.

SEÇÃO II. OS DISCÍPULOS DESTA PALAVRA.

2. A primeira classe de discípulos são aqueles que ouvem a Palavra, mas não entendem nem a estimam. E estas não são as pessoas médias do mundo, mas as maiores, mais sábias e mais santas. Em resumo, eles são a maior parte da humanidade, pois Cristo não fala aqui daqueles que perseguem a Palavra, nem daqueles que não conseguem dar seus ouvidos a ela, mas de quem a ouve e é estudante da mesma, dos que também desejam ser chamados verdadeiros cristãos e viver em comunhão cristã com cristãos, e que são participantes do batismo e da Ceia do Senhor. Mas eles têm um coração carnal, e permanecem assim, não se apropriam da Palavra de Deus para si, que entra por um ouvido e sai pelo outro. Dessa forma, a semente ao longo do caminho não vai cair na terra, mas permanece repousada no chão pelo caminho, porque este é duro, vagueado pelos pés de homens e pelas patas de animais, e ela não poderia ter raiz.

3. Portanto, Cristo diz que vem o diabo e tira a palavra do seu coração, para que eles não possam acreditar e ser salvos. O poder de Satanás nisso só revela que os corações endurecidos, através de uma mente e vida mundana, perdem a Palavra e deixam-na ir, de modo que eles nunca entendem ou o confessam; ao invés da Palavra de Deus, Satanás envia falsos mestres para a percorrerem através das doutrinas dos homens. Pois está escrito aqui: tanto que foi pisada, e as aves do céu a comeram. O próprio Cristo interpreta os pássaros como os mensageiros do diabo, que arrebatam a Palavra e a devoram, o que é feito quando ele se vira e cega seus corações para que eles não entendam nem a estimem, tal como diz São Paulo em 2 Tm 4:4: "Eles se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando-se para os mitos". Quanto a ser pisado sob os pés dos homens, Cristo se refere aos ensinamentos dos homens, àquela regra em nossos corações, como ele também diz em Mateus 5:13: o sal que perdeu o sabor é lançado para fora e pisado pelos homens; isto é, como diz São Paulo em 2 Ts 2:11, eles devem acreditar em uma mentira porque não foram obedientes à verdade.

4. Assim, todos os hereges, fanáticos e as seitas pertencem a essa categoria, que entendem o Evangelho de uma forma carnal e explicam-no como querem, de acordo com suas próprias ideias: eles ouvem o Evangelho e ainda assim não produzem frutos – sim, ademais, eles são regidos por Satanás e ainda mais duramente oprimidos pelas instituições humanas do que o eram antes de ouvirem a Palavra. É, portanto, uma expressão terrível que Cristo dá aqui: que o diabo tira a palavra de seus corações, pelo que ele mostra claramente que este reina poderosamente em seus corações, apesar de serem chamados de cristãos e de ouvirem a Palavra. Da mesma forma que soa terrivelmente que eles estão para serem pisados e deverão estar sujeitos aos homens e aos seus ensinamentos ruinosos, pelo que, sob a aparência e o nome do Evangelho, o diabo lhes toma a palavra, para que nunca possam acreditar e ser salvos, mas devam estar perdidos para sempre, como os espíritos fanáticos do nosso dia fazem em todas as terras. Para eles, esta Palavra não é dada, não há salvação, e as grandes obras ou vidas santas não adiantaram de nada, pois desta forma ele diz: "Para que não sejam salvos"; uma vez não tendo a Palavra, ele mostra de forma suficiente que não são as obras deles, mas a somente a fé na sua Palavra é que salva, como diz Paulo aos Romanos: "O poder de Deus para salvação de todo aquele que crê" (Rm 1:16).

5. A segunda classe de ouvintes são os que recebem a palavra com alegria, mas não perseveram. Estes são também uma grande multidão que entende a Palavra corretamente e se apoderam dela em sua pureza, sem qualquer espírito sectário, de divisão ou de fanatismo; eles também se alegram no que sabem acerca da verdade e são capazes de saber como podem ser salvos, sem as obras, através da fé. Eles também sabem que estão livres da escravidão da lei, de sua consciência e de ensinamentos humanos, mas quando se trata do teste de sofrerem dano, desgraça e perda de vida ou de propriedade, então eles caem e o negam, pois não têm raiz suficiente, e não são plantados a profundidade suficiente no solo. Eles, portanto, são como os que crescem sobre uma rocha, brotando frescos e verdejantes, cuja contemplação é um prazer e despertam brilhantes esperanças, mas quando o sol brilha quente eles murcham, por não terem solo e umidade, e lá somente a rocha permanece. Assim eles agem, em tempos de perseguição: eles negam ou mantêm silêncio sobre o Verbo, e lidam, falam e sofrem tudo o que seus perseguidores mencionam ou desejam o que anteriormente saía e era falado e confessou, com um espírito fresco e alegre, enquanto ainda havia paz e não o calor, de modo a haver esperança de que dessem muito fruto e servissem às pessoas. Esses frutos, por sua vez, não são apenas as obras, senão predominantemente a confissão, a pregação e a divulgação da Palavra, de modo que muitos outros possam, assim, ser convertidos e no reino de Deus ser desenvolvidos.

6. A terceira classe são aqueles que ouvem e entendem a Palavra, mas ainda caem do outro lado da estrada entre os prazeres e dos cuidados da vida, e, por consequência, eles também nada fazem com a Palavra. E há praticamente uma grande multidão destes, pois, apesar de não darem início às heresias, como a primeira classe, mas sempre possuírem a Palavra absolutamente pura, eles também são atacados: não à esquerda como os outros, com oposição e perseguição, mas sim caem pelo lado direito, e é sua ruína apreciar a paz e os bons tempos. Portanto, eles não se entregam sinceramente à Palavra, mas tornam-se indiferentes e afundam nos cuidados, riquezas e deleites da vida, de modo que eles não trazem benefícios a qualquer pessoa. Por isso, eles são como a semente que caiu entre os espinhos. Embora esse solo não seja rochoso, mas bom, não deixado de lado, mas arado profundamente, ainda assim os espinhos não vão deixá-la brotar: eles a sufocam. Assim, estes têm tudo na Palavra que seja necessário para a sua salvação, mas eles não fazem qualquer uso dela, e por conta disso apodrecem nesta vida em meio aos prazeres carnais. Estes pertencem àquele grupo que ouve a Palavra, mas não traz a sua carne em sujeição. Eles sabem o seu dever, mas não o fazem; eles ensinam, mas não praticam o que ensinam, e passam este ano como se fosse o último.

7. A quarta classe são aqueles que tomam posse e guardam a Palavra em um coração bom e honesto, e dão fruto com paciência; são aqueles que ouvem a Palavra e a retêm com firmeza, meditam nela e agem em harmonia com ela. O diabo não irá arrebatá-la para longe, nem são assim desviados; além disso, o calor da perseguição não irá roubá-la deles, e tanto os espinhos do prazer quanto a avareza em meio às circunstâncias não impedem o seu crescimento, mas eles dão fruto pelo ensino de outros e através do desenvolvimento do reino de Deus; eles, portanto, também fazem o bem ao próximo em amor, e, dessa forma, Cristo acrescenta: "eles dão fruto com perseverança." Estes devem sofrer muito por conta da Palavra, da vergonha e da desgraça trazida por fanáticos e hereges, ódio e inveja com lesão corporal e em suas propriedades através de seus perseguidores, para não mencionar os espinhos e as tentações de sua própria carne, de modo que ela pode muito bem ser chamada de a “Palavra da cruz”, pois aquele que queira mantê-la deve carregar a cruz e o infortúnio, mas também o triunfo e a fidelidade.

8. Ele diz: "Nos corações bons e generosos." Como um campo que está sem um espinho ou arbusto, limpo e espaçoso, como um belo lugar limpo: assim também é com um coração, reluzente e limpo, amplo e espaçoso, isto é, sem cuidados e sem avareza quanto às necessidades temporais, para que a Palavra de Deus verdadeiramente encontre guarida lá. Mas o campo é bom, não só quando ele está arado e nivelado, mas quando ele também possui solo rico e fértil e é produtivo, não como um campo de pedra e cascalho. Só assim o coração que tem um bom solo e cheio de espírito é forte, fértil e bom para manter a Palavra, e dá fruto com perseverança.

9. Aqui vemos porque não é à toa que há tão poucos verdadeiros cristãos, uma vez que nem toda a semente cai em boa terra, mas apenas um quarto e uma pequena parte, e que não são de confiança aqueles que se gabam de serem cristãos e louvam o ensinamento do Evangelho, como Demas, um discípulo de São Paulo, que por fim o abandonou (2 Tm 4:10), ou como os discípulos de Jesus, que viraram as costas para ele (João 6:66). O próprio Cristo exclama aqui: "Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça", como se dissesse: “Ah! Quão poucos cristãos verdadeiros existem! Não se atrevam a acreditar que todos os chamados cristãos, ouvintes do Evangelho, sejam cristãos: é necessário muito mais do que isso!”.

10. Tudo isso é falado para nossa instrução, para que possamos não errar, uma vez que muitos fazem mau uso do Evangelho e alguns o apreendem corretamente. A verdade é desagradável ao ser pregada àqueles que tratam o Evangelho de maneira tão vergonhosa e até mesmo se opõem a ela. A pregação é tornar-se tão universal que o Evangelho deva ser proclamado a todas as criaturas, como Cristo diz em Mc 16:15: "Pregai o Evangelho a toda criatura", e Sl. 19:4: "A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo." Que tenho eu contra isso para não estimá-lo demais? Deve ser porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos. Por causa da boa terra que produz frutos com paciência, a semente também deve cair infrutífera pelo caminho, sobre a rocha e entre os espinhos, na medida em que temos a certeza de que a Palavra de Deus não irá adiante sem levar alguns frutos, mas sempre encontra também boa terra. Como Cristo diz aqui, algumas sementes do semeador também caíram em boa terra, e não só pelo caminho, entre os espinhos e em solo pedregoso. Por onde quer que o Evangelho vá você vai encontrar cristãos. “Minha palavra não voltará para mim vazia” (Is 55:11).

SEÇÃO IV. POR ISSO QUE CRISTO CHAMA A DOUTRINA SOBRE OS DISCÍPULOS E OS FRUTOS DA PALAVRA DE “MISTÉRIO”.

19. Mas que isso quer dizer quando ele afirma: "A vós é dado conhecer os mistérios do reino de Deus" etc.? Quais são os mistérios? Se não se deve conhecê-los, por que então eles são pregados? Um “mistério” é um segredo escondido, que não é conhecido; os "mistérios do reino de Deus" são as coisas do reino de Deus, como, por exemplo, Cristo com toda a sua graça manifesta a nós, como Paulo a descreve, pois quem conhece a Cristo corretamente entende o que significa o reino de Deus, bem como o que nele está contido. E isso é chamado de mistério, porque é espiritual e secreto, e de fato continua a ser assim, para quem o espírito não a revelar. Pois, embora haja muitos que o veem e o ouvem, mas não o entendem, assim é com muitos que pregam e ouvem a Cristo, tal como ele se ofereceu a si mesmo por nós, mas tudo o que sabem está apenas sobre a sua língua e não em seu coração: eles mesmos não acreditam, nem experimentam, como Paulo em 1 Co 2:14 diz: “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus!” Cristo, por sua vez, diz aqui: “A vós é dado”, o Espírito lhe concede não apenas ouvir e ver, mas reconhecer e acreditar com o coração. Isso, portanto, já não é um mistério para você, mas para outros que ouvem, assim como você, mas não têm fé em seu coração, eles veem e não entendem: para eles isso é um mistério e que lhes continuará desconhecido, e tudo o que escutam é apenas como um ouvir uma parábola ou um provérbio obscuro. Isto também é comprovado pelos fanáticos dos nossos dias: sabem tanto de pregar a respeito de Cristo, mas, como eles mesmos não o experimentam em seu coração, eles avançam e passar pelo verdadeiro fundamento do mistério, vagando por aí com perguntas e descobertas raras; quando se trata de uma prova, eles não sabem a menor parcela sobre a confiança em Deus e encontrar em Cristo o perdão dos seus pecados.

20. Mas Marcos diz (4:33) que Cristo falou assim ao povo com parábolas, para que pudessem compreender cada um segundo a sua capacidade. Como é que isso harmoniza com o que diz Mateus, 13:13-14: Ele assim lhes falou em parábolas, pelo fato de eles não entenderem? Certamente Marcos quis dizer que as parábolas servem para arrebatar uma massa de pessoas difíceis e grosseiras, ainda que elas não as entendam imediatamente de fato, mais tarde podem ser ensinadas e, em seguida, elas a entendam; parábolas são naturalmente agradáveis para as pessoas comuns, e eles facilmente recordam delas, uma vez que são tomadas a partir de assuntos comuns do dia a dia, no cotidiano em que as pessoas vivem. Mas Mateus quer dizer que estas parábolas são de natureza tal que ninguém possa compreendê-las: eles podem agarrá-las e ouvi-las quantas vezes quiserem, mas o Espírito pode torná-las conhecidas e revelá-las. Não que eles deveriam pregar aquilo que não podem entender, mas segue-se naturalmente que, uma vez não revelado pelo Espírito, isso ninguém entende. Cristo, no entanto, tomou estas palavras de Is. 6:9-10, onde o alto significado da presciência divina é mencionado: Deus esconde e revela a quem ele quiser; a quem ele tinha em mente desde a eternidade.

  
Autor: Martinho Lutero

A Influência do Mentor




Por Jim Mathis

Quando estava na faculdade, nos anos sessenta, chamou minha atenção um anúncio recorrente na contracapa das revistas sobre fotografia que eu lia. Falava sobre um lugar que tinha capacidade de ampliar a sensibilidade do filme ektachrome para 1600, algo desconhecido para a época. O endereço era intrigante: uma casa em Prairie Village, Kansas. Eu imaginava uma casinha na pradaria, igual à de uma série da TV da época. O nome do laboratório fotográfico era, “Elgin Smith’s Studio 35”. Mais tarde aprendi que Elgin Smith era conhecido mundialmente como “aquele camarada do Kansas que sabia tudo sobre ektachrome”.

Quando me mudei para Kansas City em 1971, procurei o Sr. Smith na vizinha Prairie Village. Em breve nos tornamos bons amigos e quando abri o meu próprio laboratório em 1973, Elgin Smith tornou-se meu mentor. Ele e a esposa Dorothy, enviaram vários trabalhos, dando ao meu negócio um grande pontapé inicial. Sempre que mencionava o nome de “Elgin Smith” a alguém do ramo fotográfico, recebia a mesma resposta: “Que grande pessoa!”, ou, “Elgin é a pessoa mais legal que se pode conhecer”.

Ele tinha outra característica importante: busca incansável por excelência. Tudo quanto fez foi da mais alta qualidade. Elgin Smith não aceitava nada menos que isso. Ao longo dos anos percebi que aquelas eram qualidades que também me esforçava para alcançar. Sempre fico satisfeito quando alguém me descreve como um “cara legal”. Gosto de pessoas e busco ser alguém de quem se goste. Mas também busco excelência em tudo que faço: na fotografia, na música, escrevendo e nos meus relacionamentos.

É muito significativo para mim saber que essas qualidades recebem bastante atenção na Bíblia. Entre os valores básicos do cristianismo estão: “Amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade e domínio próprio” (Gálatas 5.22-23). Gosto da passagem que diz: “Por isso mesmo, empenhem-se por acrescentar à sua fé a virtude; à virtude o conhecimento; ao conhecimento o domínio próprio; ao domínio próprio a perseverança; à perseverança a piedade; à piedade a fraternidade; e à fraternidade o amor” (2Pedro 1.5-7). 

A Bíblia ressalta também a importância de trabalhar com excelência: “Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens” (Colossenses 3.23). Para mim isso significa fazer tudo com o melhor de nossa habilidade, como se Deus estivesse olhando por cima de nossos ombros, avaliando nosso esforço e qualidade do nosso trabalho.

Meu mentor Elgin Smith faleceu, mas sua influência em minha vida permanece, especialmente seus exemplos de procurar ser uma pessoa boa e amigável e realizar tudo com excelência. Até hoje frequentemente penso: “O que Elgin Smith faria?”

*Jim Mathis, diretor executivo do CBMC em Kansas, Missouri e em conjunto com a esposa Louise dirigem uma Cafeteria. Tradução de Mércia Padovani. Revisão e adaptação de J. Sergio Fortes (fortes@cbmc.org.com).

A Herança dos Santificados

por Luciano Subirá

No ano de 2008, começamos em Curitiba, Paraná, um evento anual direcionado especificamente a pastores e líderes, com o nome “Casa de Zadoque”. O evento nasceu e foi denominado a partir da mensagem que eu compartilharei aqui. A essência desta mensagem é a relação entre a conquista e a consagração. Ao instruir o profeta Ezequiel sobre um novo Templo e sobre como deveria ser feita a distribuição da herança ao redor do lugar de adoração (o novo Templo), o Senhor deu honra e herança especial aos que Ele mesmo chamou de “sacerdotes santificados”.

Há uma herança especial, reservada aos ministros comprometidos com Deus. Através do profeta Ezequiel, vemos o Senhor destacando uma linhagem sacerdotal que cumpriu o seu dever e não se extraviou – os filhos de Zadoque:

“Será para os sacerdotes santificados, para os filhos de Zadoque, que cumpriram o seu dever e não andaram errados, quando os filhos de Israel se extraviaram, como fizeram os levitas.” (Ezequiel 48.11)

Tudo o que alcançamos em nosso relacionamento com Deus (e também no ministério) está direta e proporcionalmente ligado à dimensão do nosso compromisso e entrega. A nossa santificação determinará não apenas quão longe iremos e o quanto conquistaremos, mas também o que conseguiremos manter e preservar depois dessas conquistas.

Os integrantes desta linhagem sacerdotal – os filhos de Zadoque – foram destacados por Deus como “sacerdotes santificados” (poderíamos ainda chamá-los de “ministros comprometidos” com o Senhor). Para compreendermos esta linhagem e o seu valor aos olhos de Deus, é preciso retroceder muito no tempo desta narrativa bíblica para entendermos um processo que teve início com a palavra de juízo que o Senhor pronunciou contra a casa do sumo sacerdote Eli.

A PROMESSA DE UMA CASA FIRME

As Escrituras Sagradas nos revelam alguns princípios importantíssimos com relação à maneira como Deus Se relaciona com os Seus ministros. Ao estabelecer um ministério, o Senhor não apenas determina o que o mesmo deve fazer e como deve agir, mas também deixa claro que um dia haverá uma prestação de contas e uma recompensa (boa ou não) de tudo o que ele fez.

No entanto, alguns ministérios podem ser julgados pelo Senhor, até mesmo antes da futura prestação de contas. O apóstolo Paulo declarou a Timóteo que há um juízo imediato e um não-imediato: “Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo que os de outros só mais tarde se manifestam” (1 Tm 5.24). Ou seja, alguns pecados somente serão revelados e julgados no futuro, mas outros podem ser revelados e julgados já. Foi exatamente o que aconteceu com o sumo sacerdote Eli.

Por causa dos seus contínuos pecados contra o Senhor (bem como de seus filhos), depois de muita expressão da longanimidade de Deus (o que me parece óbvio pelo fato de Eli ter chegado à velhice), o Altíssimo, por meio de um profeta, declarou uma dura palavra de juízo contra Eli:

“Veio um homem de Deus a Eli e lhe disse: Assim diz o Senhor: Não me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando os israelitas ainda no Egito, na casa de Faraó? Eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. Por que pisais aos pés os meus sacrifícios e as minhas ofertas de manjares, que ordenei que me fizessem na minha morada? E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu povo de Israel? Portanto, diz o Senhor, Deus de Israel: Na verdade, dissera eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o Senhor: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam serão desmerecidos. Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais velho nenhum em tua casa. E verás o aperto da morada de Deus, a um tempo com o bem que fará a Israel; e jamais haverá velho em tua casa. O homem, porém, da tua linhagem a quem eu não afastar do meu altar será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão na flor da idade. Ser-te-á por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e Finéias: ambos morrerão no mesmo dia. Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre. Será que todo aquele que restar da tua casa virá a inclinar-se diante dele, para obter uma moeda de prata e um bocado de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum dos cargos sacerdotais, para ter um pedaço de pão, que coma.” (1 Samuel 2.27-36)

Algumas coisas muito claras foram anunciadas nesta profecia:

1) Foi o Senhor que escolheu e levantou a Casa de Eli para o ministério.

2) O Senhor não Se agradou de Eli e de sua casa, que O desonraram com o pecado.

3) O Senhor decidiu julgá-los (e à sua descendência), removendo-os do ministério.

4) O Senhor prometeu levantar um sacerdote fiel e edificar-lhe uma casa estável (outras versões bíblicas usam a expressão “casa firme”) no local de habitação desta família.

Estas verdades devem estar no coração de todos os que foram chamados ao ministério. O pecado atrairá juízo (e até mesmo a substituição da posição ministerial) dos que foram chamados e levantados pelo próprio Deus!

A promessa divina de juízo e de substituição da família sacerdotal de Eli também nos mostra algumas verdades importantíssimas com relação ao ministério:

1) Até mesmo com uma declaração anteriormente feita, que expressava que a vontade divina era que a Casa de Eli permanecesse sempre no ministério, isto não se concretizou pela falha do próprio sacerdote.

2) Sempre que alguém falha em cumprir o propósito divino, outro é levantado em seu lugar (Et 4.14; At 1.20).

3) O critério principal da nova escolha de Deus é encontrar alguém que não falhe da mesma forma que falhou o que foi substituído (1 Sm 13.14).

Como é triste saber que alguém que o Senhor escolheu para Si foi rejeitado e substituído! Mas o juízo divino declarado contra a Casa de Eli não é algo exclusivamente dele; o mesmo princípio é aplicado a qualquer ministério que “zombe” de Deus, como Eli e seus filhos fizeram, pois a Escritura declara:

“Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6.7)

O cumprimento da profecia feita a Eli aconteceu anos depois, envolvendo dois sacerdotes distintos: Abiatar e Zadoque. Na pessoa de Abiatar, vemos o cumprimento da destruição da família de Eli. Na pessoa de Zadoque, encontramos o cumprimento da promessa a um sacerdote fiel.

Observemos primeiramente a história de Abiatar. Depois analisaremos a história de Zadoque. O profeta Samuel ainda estava vivo quando começou a acontecer o juízo sobre a casa de Eli:

“Respondeu o rei: Aimeleque, morrerás, tu e toda a casa de teu pai. Disse o rei aos da guarda, que estavam com ele: Volvei e matai os sacerdotes do Senhor, porque também estão de mãos dadas com Davi e porque souberam que fugiu e não mo fizeram saber. Porém os servos do rei não quiseram estender as mãos contra os sacerdotes do Senhor. Então, disse o rei a Doegue: Volve-te e arremete contra os sacerdotes. Então, se virou Doegue, o edomita, e arremeteu contra os sacerdotes, e matou, naquele dia, oitenta e cinco homens que vestiam estola sacerdotal de linho. Também a Nobe, cidade destes sacerdotes, passou a fio de espada: homens, e mulheres, e meninos, e crianças de peito, e bois, e jumentos, e ovelhas. Porém dos filhos de Aimeleque, filho de Aitube, um só, cujo nome era Abiatar, salvou-se e fugiu para Davi; e lhe anunciou que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor.” (1 Samuel 22.16-21)

A Bíblia nos mostra que esta era a linhagem sacerdotal de Eli: “Aías, filho de Aitube, irmão de Icabô, filho de Finéias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló, trazia a estola sacerdotal” (1 Sm 14.3). Tanto Aías como Aimeleque eram filhos de Aitube e bisnetos de Eli. E, dentre os sacerdotes, todos morreram (oitenta e cinco diante de Saul somente, além dos que morreram em Nobe), com a única exceção de um descendente de Eli, o seu tataraneto Abiatar, que escapou com vida e foi – por vários anos – o único sobrevivente desta linhagem. Porém, quando Salomão assumiu o trono, a sentença profética contra a Casa de Eli enfim veio a cumprir-se:

“E a Abiatar, o sacerdote, disse o rei: Vai para Anatote, para teus campos, porque és homem digno de morte; porém não te matarei hoje, porquanto levaste a arca do Senhor Deus diante de Davi, meu pai, e porque te afligiste com todas as aflições de meu pai. Expulsou, pois, Salomão a Abiatar, para que não mais fosse sacerdote do Senhor, cumprindo, assim, a palavra que o Senhor dissera sobre a casa de Eli, em Siló.” (1 Reis 2.26,27)

Quando Abiatar foi expulso do ministério sacerdotal, a palavra do Senhor contra a Casa de Eli finalmente se cumpriu! Entretanto, esta palavra profética não dizia respeito somente à remoção desta família do sacerdócio. Deus prometeu levantar um outro sacerdote que fosse fiel e, através dele, levantar uma “Casa Firme”. Vemos o cumprimento deste aspecto da profecia na vida de Zadoque.

É importante destacarmos que Zadoque foi sacerdote juntamente com Abiatar, mas, diferentemente deste outro sacerdote, ele não apenas se manteve fiel durante os seus dias de vida, mas também instruiu toda uma linhagem a manter-se fiel ao Senhor!

Ao falar de uma “Casa Firme”, o Senhor revelou o Seu desejo de ver, não apenas um ministro, mas também toda uma linhagem, mantendo-se estáveis e firmes na devoção e fidelidade a Ele e aos Seus mandamentos. Até mesmo na Nova Aliança, o conceito de que os filhos dos ministros devem andar em integridade é sustentado:

“É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher… e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?).” (1 Timóteo 3.2a,4,5)

“Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.” (Tito 1.5,6)

A nossa resposta ao chamado ministerial não diz respeito somente a nós, ministros do Senhor, mas também envolve toda a nossa família! Os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos (e toda uma linhagem) deveriam ser muito bem instruídos com relação a como andarem em fidelidade ao Senhor. Deus não está apenas procurando pessoas que façam bem o serviço, que executem uma tarefa com excelência! Ele espera que apresentemos uma casa firme, estável! Que as próximas gerações, depois de nós, possam continuar vivendo em santificação e com um compromisso com Ele! Este talvez seja o maior desafio e a maior responsabilidade de um ministério!

ESTABELECIDOS OU REMOVIDOS DO MINISTÉRIO

Muitos ignoram (até mesmo estando no ministério) o fundamento bíblico no tocante à forma como o Senhor age com relação aos que são estabelecidos numa posição ministerial (ou até mesmo removidos dela). As coisas não acontecem de forma aleatória. O Reino de Deus é constituído por princípios – que Ele mesmo estabeleceu – e por isso não podemos ignorá-los. Há um princípio divino, revelado nas Escrituras, que sempre está relacionado com o estabelecimento de pessoas no ministério. Trata-se da consagração, da santificação.

Ao procurarmos entender o padrão celestial para o estabelecimento de alguém no ministério, precisamos recorrer aos registros bíblicos dos dias de Moisés. A razão é que, antes de Moisés, ninguém foi oficial e formalmente estabelecido por Deus no ministério. Algumas pessoas aparecem na narrativa bíblica como sacerdotes (como Melquisedeque e Jetro), mas não vemos ninguém sendo colocado por Deus nesta função. A primeira consagração ao ministério aconteceu com Arão e seus filhos, e, logo depois, toda a Tribo de Levi foi separada para as funções ministeriais (ainda que não fossem todos sacerdotes). Mas há uma pergunta importante que deveríamos fazer ao falarmos sobre os padrões de Deus para se estabelecer alguém no ministério: “Por que a Tribo de Levi foi escolhida?” O plano de Deus inicialmente não envolvia apenas uma tribo. Ele desejava uma nação sacerdotal:

“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel.” (Êxodo 19.5,6)

O plano divino era um reino (e não só uma tribo) de sacerdotes! Era uma nação santa! A palavra hebraica traduzida como “santa” é “kadosh”, e significa não apenas “algo sagrado”, mas também tem a ideia de “separado”. O conceito de “separado” não era simplesmente o conceito de se manter distância dos outros povos, pois o plano divino envolvia o fato de que as nações seriam abençoadas e alcançadas através do povo de Israel (Gn 18.18). Ser “separado”, além de “não contaminar-se com os pecados e práticas dos demais povos”, também significava a necessidade de “ser um instrumento, um canal de Deus para se tocar os demais povos e culturas”!

Entretanto, num momento específico, a Tribo de Levi foi separada para ser uma tribo sacerdotal, ao invés de toda uma nação de sacerdotes. O que aconteceu para determinar esta escolha? O próprio Moisés responde, falando sobre algo que ocorreu entre as suas duas subidas ao Monte Sinai:

“Por esse mesmo tempo, o Senhor separou a tribo de Levi para levar a arca da Aliança do Senhor, para estar diante do Senhor, para o servir e para abençoar em seu nome até ao dia de hoje. Pelo que Levi não tem parte nem herança com seus irmãos; o Senhor é a sua herança, como o Senhor, teu Deus, lhe tem prometido. Permaneci no monte, como da primeira vez, quarenta dias e quarenta noites; o Senhor me ouviu ainda por esta vez; não quis o Senhor destruir-te.” (Deuteronômio 10.8-10)

Ele fala que “por esse mesmo tempo” (e não antes) a Tribo de Levi foi separada. O que aconteceu para determinar esta escolha? O versículo 10 revela quando isto foi determinado: antes da segunda vez que Moisés subiu ao Monte Sinai!

Quando Moisés desceu do Monte Sinai com as Tábuas de Pedra contendo os Dez Mandamentos, ele descobriu que o povo de Israel, liderado por Arão, havia feito um bezerro de ouro e havia se apartado do Senhor. O povo estava desenfreado (não podia ser contido). Então foi tomada uma enérgica medida de juízo:

“Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos seus inimigos, pôs-se em pé à entrada do arraial e disse: Quem é do Senhor venha até mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi, aos quais disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um cinja a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. E fizeram os filhos de Levi segundo a palavra de Moisés; e caíram do povo, naquele dia, uns três mil homens.” (Êxodo 32.25-28)

No momento em que Moisés declara “Quem é do Senhor venha até mim”, os únicos que responderam foram os integrantes da Tribo de Levi: “Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi.” E, naquele mesmo instante, eles se moveram no zelo de santidade e executaram juízo contra os seus irmãos. A escolha divina pelos que serão ministros do Altíssimo sempre está associada à consagração e à santificação. Por isso, se um ministro comprometer esses valores, ele terá comprometido a essência do seu chamado!

Assim como vemos na profecia contra Eli e na separação da Tribo de Levi, também vemos este mesmo critério de escolha (ou de rejeição) com relação aos reis de Israel. Este é o caso de Saul:

“Então, disse Samuel a Saul: Procedeste nesciamente em não guardar o mandamento que o Senhor, teu Deus, te ordenou; pois teria, agora, o Senhor confirmado o teu reino sobre Israel para sempre. Já agora não subsistirá o teu reino. O Senhor buscou para si um homem que lhe agrada e já lhe ordenou que seja príncipe sobre o seu povo, porquanto não guardaste o que o Senhor te ordenou.” (1 Samuel 13.13)

Eu sempre achei que Saul havia sido levantado “temporariamente”, até que Davi, o escolhido de Deus, aparecesse no cenário. Mas isso não é verdade! Saul teve chances reais de não somente permanecer no trono, mas também, como disse o profeta Samuel, de ter o seu reino sobre Israel confirmado para sempre! Isso não significa que ele seria imortal, mas que a sua linhagem (à semelhança da Aliança que Deus fez posteriormente com Davi) estaria para sempre no trono – o que, a meu ver, revela a possibilidade de que o Messias viesse da linhagem de Saul! O que este homem jogou fora não foi apenas o trono (aliás, isso foi o que ele mais aproveitou! Ele reinou por quarenta anos – At 13.21), mas foi também a perspectiva de ele poder estar no desenrolar do plano divino, que envolvia algo muito maior do que ele jamais sonhara!

Vemos a repetição do mesmo caso com o rei Jeroboão. Nos dias de Roboão, filho de Salomão, o reino se dividiu. Judá e Benjamin formaram, sob o comando de Roboão, o Reino de Judá (ou do Sul), e as demais tribos formaram, sob o comando de Jeroboão, o Reino de Israel (ou do Norte). Antes de o reino se dividir, uma palavra profética foi dada a Jeroboão, dizendo que o Senhor estava rasgando dez Tribos de Israel, do Reino de Roboão, e entregando-as a ele. E, juntamente com esta notícia, foi dito a Jeroboão o seguinte:

“Tomar-te-ei, e reinarás sobre tudo o que desejar a tua alma; e serás rei sobre Israel. Se ouvires tudo o que eu te ordenar, e andares nos meus caminhos, e fizeres o que é reto perante mim, guardando os meus estatutos e os meus mandamentos, como fez Davi, meu servo, eu serei contigo, e te edificarei uma casa estável, como edifiquei a Davi, e te darei Israel.” (1 Reis 11.37,38)

Se Jeroboão obedecesse ao Senhor – o que sabemos que ele não fez – ele teria o mesmo direito a uma casa estável (firme), como Deus concedeu a Davi! Nem Saul nem Jeroboão foi levantado por Deus para falhar e ser removido! Eles tinham promessas e possibilidades reais de prosperarem no plano divino! Contudo, as suas escolhas (erradas) os afastaram do Senhor! Se por um lado a nossa obediência e a nossa consagração nos estabelecem no lugar de serviço designado por Deus, por outro lado a desobediência e a falta de consagração nos removem da posição de serviço em que fomos estabelecidos!

Este é um padrão encontrado em toda a Bíblia! Não somente no Antigo Testamento, mas também no Novo Testamento. No Livro do Apocalipse, o apóstolo João teve uma visão de Sete Candeeiros de Ouro e de Sete Estrelas (Ap 1.20), sendo que os Candeeiros simbolizam as Sete Igrejas (da Ásia) e as estrelas representam os anjos (mensageiros) dessas Igrejas. Uma palavra que o Senhor diz, através de João, ao anjo da Igreja (Candeeiro) de Éfeso é a seguinte:

“Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro [igreja], caso não te arrependas.” (Apocalipse 2.5)

Em outras palavras, o Senhor está dizendo: “Arrependa-se, senão Eu retirarei a igreja (o ministério) que Eu lhe confiei!” É evidente, portanto, que a falta de santidade faz com que alguns ministros sejam removidos do seu lugar de serviço em o Senhor os colocou. Por outro lado, vimos que Deus separou a Tribo de Levi para o ministério, justamente por terem se posicionado em santidade, o que nos faz perceber o princípio bíblico de que o que faz com que sejamos estabelecidos no ministério é o nosso compromisso de santidade. Veremos isto uma vez mais no exemplo bíblico a seguir, que revela a importância do zelo de santidade.

O ZELO DE SANTIDADE

Cada ministro do Senhor deve não apenas consagrar-se em sua vida pessoal, mas também ser cheio de zelo pela santidade do povo de Deus. Temos a seguir a impressionante história de Finéias, neto do sumo sacerdote Arão, o qual, devido à sua atitude de declarar guerra e intolerância ao pecado, recebeu a aliança do sacerdócio perpétuo (o que ressalta que não há prova mais evidente com relação ao que faz com que sejamos estabelecidos pelo Senhor no ministério):

“Habitando Israel em Sitim, começou o povo a prostituir-se com as filhas dos moabitas. Estas convidaram o povo aos sacrifícios dos seus deuses; e o povo comeu e inclinou-se aos deuses delas. Juntando-se Israel a Baal-Peor, a ira do Senhor se acendeu contra Israel. Disse o Senhor a Moisés: Toma todos os cabeças do povo e enforca-os ao Senhor ao ar livre, e a ardente ira do Senhor se retirará de Israel. Então, Moisés disse aos juízes de Israel: Cada um mate os homens da sua tribo que se juntaram a Baal-Peor. Eis que um homem dos filhos de Israel veio e trouxe a seus irmãos uma midianita perante os olhos de Moisés e de toda a congregação dos filhos de Israel, enquanto eles choravam diante da tenda da congregação. Vendo isso Finéias, filho de Eleazar, o filho de Arão, o sacerdote, levantou-se do meio da congregação, e, pegando uma lança, foi após o homem israelita até ao interior da tenda, e os atravessou, ao homem israelita e à mulher, a ambos pelo ventre; então, a praga cessou de sobre os filhos de Israel. Os que morreram da praga foram vinte e quatro mil.” (Números 25.1-9)

Finéias não admitiu o insulto daquele israelita, e, sob uma ordem que já havia sido dada pelo Senhor de se exercer juízo sobre os que encabeçavam aquela corrida ao pecado, o sacerdote agiu, mostrando um grande zelo por Deus e pela Sua santidade no meio do arraial de Israel. As Escrituras Sagradas nos mostram que este seu zelo de santidade não somente fez com que a praga cessasse, mas também foi o que fez com que o Senhor o confirmasse em sua posição ministerial (além da promessa divina sobre a sua linhagem permanecer no sacerdócio – que é o conceito que já abordamos sobre a “casa firme”):

“Então, disse o Senhor a Moisés: Finéias, filho de Eleazar, filho de Arão, o sacerdote, desviou a minha ira de sobre os filhos de Israel, pois estava animado com o meu zelo entre eles; de sorte que, no meu zelo, não consumi os filhos de Israel. Portanto, dize: Eis que lhe dou a minha aliança de paz. E ele e a sua descendência depois dele terão a aliança do sacerdócio perpétuo; porquanto teve zelo pelo seu Deus e fez expiação pelos filhos de Israel.” (Números 25.10-13)

Vamos refletir um pouco sobre esta “aliança do sacerdócio perpétuo”. Deus já havia determinado que a linhagem de Arão exerceria o sacerdócio. Contudo, isto não significava que qualquer homem da sua linhagem estivesse “garantido” no ministério. Se assim fosse, o Senhor não teria falado em remover a Casa de Eli do sacerdócio. Por outro lado, até mesmo com a linhagem de Eli sendo arrancada do ministério, outros descendentes de Arão ainda continuariam a exercer o serviço sagrado.

Portanto, a aliança que Deus firmou com Finéias não é mera repetição da promessa e da bênção que já havia sobre qualquer descendente de Arão. É algo mais! Eu creio que o Altíssimo estava dizendo que, ainda que outros descendentes de Arão pudessem ser removidos do ministério, a linhagem de Finéias seria perpetuamente estabelecida em seu lugar de serviço. Por quê? Por causa do zelo de santidade manifestado pelo cabeça de toda uma linhagem.

É interessante observarmos, ao falarmos da remoção da Casa de Eli do sacerdócio (por sua infidelidade), que ele não era descendente de Finéias (filho de Eleazar). Eli, embora descendente de Arão, era da linhagem de Itamar (1 Cr 24.3,6), e não de Eleazar. Por outro lado, o sacerdote Zadoque era da linhagem de Finéias (filho de Eleazar), e, como descendente deste, estava incluído na aliança do sacerdócio perpétuo:

“Estes foram os descendentes de Arão: o seu filho Eleazar, pai de Finéias, que foi o pai de Abisua, pai de Buqui, pai de Uzi, que foi o pai de Zeraías, pai de Meraiote, pai de Amarias, que foi o pai de Aitube, pai de Zadoque, pai de Aimaás.” (1 Crônicas 6.50-53 – NVI)

A história se repete! Arão recebeu a promessa de ter a sua linhagem no ministério. Depois de Arão, o seu neto Finéias se destacou e, devido ao seu zelo de santidade, ele recebeu esta aliança do sacerdócio perpétuo. Posteriormente, surgiu Zadoque (da linhagem de Finéias), a quem Deus fez a promessa de uma “casa firme” (uma linhagem que não seria removida). Após o Exílio Babilônico, um dos períodos de maior apostasia da história de Israel, os filhos de Zadoque ainda foram apontados por Deus como os que se conservaram fiéis. Finalmente, nos últimos Livros da narrativa do Antigo Testamento, surgiu Esdras, o sacerdote de grande destaque na reconstrução de Jerusalém no período pós-exílio, que também era descendente de Zadoque e de Finéias (Ed 7.1-5).

Portanto, o que nos estabelece ou nos remove da nossa função ministerial é o nosso compromisso com Deus, é o nosso zelo de santidade (ou a falta dele)!

É MELHOR NÃO PECARMOS DO QUE SERMOS RESTAURADOS DEPOIS

Aos quinze anos de idade, eu ouvi uma história que, apesar de muito simples (eu poderia dizer que foi uma ilustração bem infantil), me abriu os olhos para algo muitíssimo importante. Eu estava conversando com um pastor sobre as lutas contra o pecado que o adolescente tem que travar, e, em algum momento, eu comentei como era confortante a ideia de que servimos a um Deus perdoador. Apesar de eu estar falando uma verdade bíblica inquestionável, eu creio que eu deixei transparecer um entendimento equivocado sobre como devemos nos relacionar com a questão do pecado e sobre como podemos usufruir do perdão de Deus, pois, imediatamente, aquele pastor passou a narrar a seguinte história:

“Havia um garoto cheio de energia, hiperativo, que a mãe mal conseguia controlar. Depois de inúmeras tentativas frustrantes de corrigir e disciplinar o menino, a mãe resolveu mexer em algo que se destacava como uma característica singular da criança: o seu lado narcisista. Ela havia presenteado o filho com uma foto dele, a qual foi ampliada e colocada como um pôster enorme em seu próprio quarto. O rapazinho amava aquele quadro e quase adorava a si mesmo. Assim sendo, a sua mãe, decidida a fazê-lo repensar a sua rebeldia, ameaçou-o, dizendo que, a partir daquele momento, ela pregaria uma taxinha no pôster do menino a cada ato de desobediência dele. Num certo dia, o menino entrou em seu quarto e surpreendeu-se por quase não conseguir enxergar o seu próprio rosto no pôster, tamanha a quantidade de taxinhas fincadas no quadro! O choque causado pela cena o ajudou a perceber o quanto ele vinha errando e magoando a sua própria mãe. Sinceramente arrependido, o garoto pediu perdão por ter falhado tanto e disse o quanto ele gostaria de agir de forma diferente, o que fez com que a sua mãe não apenas o perdoasse, mas também removesse todas aquelas taxinhas! Contudo, enfatizou o narrador, o quadro ficou cheio de furinhos!”

Moral da história: os nossos erros, ainda que perdoados, deixam consequências! Eu entendi imediatamente que, apesar de saber que eu servia a um Deus que perdoa os meus pecados, eu não podia “brincar” de pecar, para pedir perdão depois! É melhor não pecarmos do que sermos restaurados depois, pois o perdão divino restaura a nossa comunhão com o Senhor, mas não anula as consequências que se manifestarão depois! A Palavra de Deus é muito clara com relação a isso! Vejamos esse princípio revelado em três exemplos bíblicos de pessoas que pecaram e colheram as consequências, até mesmo depois que foram perdoadas!

Primeiramente, observemos o exemplo da geração de israelitas que saiu do Egito. Quando eles se recusaram a crer que herdariam a Terra Prometida, o Senhor Se irou contra eles, a ponto de querer destruí-los (Nm 14.11,12). Mas Moisés intercedeu por eles, suplicando o perdão divino, e foi ouvido em sua oração (Nm 14.13-20). Deus perdoou o pecado deles, mas, juntamente com o perdão, o Senhor anunciou qual seria a consequência do pecado deles (ainda que já perdoado):

“O Senhor respondeu: Eu o perdoei, conforme você pediu. No entanto, juro pela glória do Senhor que enche toda a terra, que nenhum dos que viram a minha glória e os sinas miraculosos que realizei no Egito e no deserto, e me puseram à prova e me desobedeceram dez vezes – nenhum deles chegará a ver a terra que prometi com juramento a seus antepassados. Ninguém que me tratou com desprezo a verá.” (Números 14.20-23 – NVI)

Também encontramos nas Escrituras o exemplo de Davi, o qual, ainda que perdoado pelo pecado cometido, ouviu do Senhor uma sentença de julgamento. Isto é evidente na palavra profética recebida depois do pecado de adultério com Bate-Seba e do homicídio de Urias:

“Por que, pois, desprezaste a palavra do Senhor, fazendo o que era mal perante ele? A Urias, o heteu, feriste à espada; e a sua mulher tomaste por mulher, depois de o matar com a espada dos filhos de Amom. Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher. Assim diz o Senhor: Eis que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com elas, em plena luz deste sol. Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei isto perante todo o Israel e perante o sol.” (2 Samuel 12.9-14)

Ainda que Deus houvesse declarado o perdão a Davi e que ele estava livre da morte (o que a Lei de Moisés exigia neste caso, o que, para mim, é uma “janela da graça” se abrindo ainda no tempo da Lei), as consequências foram claramente anunciadas. O rei-salmista foi avisado de que a espada jamais se apartaria da sua casa, e ele provou a dor de ver um filho matando o outro. A vida de Davi (bem como de sua família) tornou-se uma grande confusão depois deste ocorrido, e, na rebelião de Absalão, a profecia teve o seu cumprimento final, quando as concubinas do rei Davi foram tomadas pelo seu filho e humilhadas à vista de todo o Israel!

Todo pecado, mesmo que perdoado por Deus, deixa consequências! Sempre haverá uma colheita das coisas que plantamos! O perdão divino remove a culpa, mas as consequências – ainda que aplacadas pela misericórdia divina – hão de se manifestar!

Outro exemplo claro desta verdade (de que os pecados perdoados deixam consequências) pode ser visto na vida de Paulo, o qual, antes da sua conversão, perseguiu a Igreja de Jesus Cristo como poucos fizeram (At 8.3; 1 Co 15.9). Sabemos que, ao encontrar-se com Jesus, Paulo foi perdoado de todos os seus pecados. No entanto, assim que se converteu, uma das primeiras palavras proféticas que ele recebeu do Senhor foi: “Eu lhe mostrarei o quanto importa sofrer pelo meu nome” (At 9.16).

Vale ressaltarmos que as consequências dos nossos pecados, obviamente, são determinadas pela gravidade do que praticamos. Nem todo pecado cometido por um ministro significará a sua remoção do seu ministério. O que o Senhor Jesus declarou ao mensageiro da Igreja de Éfeso foi o seguinte: “Arrepende-te… se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas” (Ap 2.5). A remoção do ministério somente ocorre se não houver arrependimento. Contudo, alguns pecados que cometemos, até mesmo depois de terem sido perdoados por Deus, podem reduzir a nossa herança ministerial e o nível de conquistas e de bênçãos que poderíamos desfrutar!

Vemos nas Escrituras Sagradas o exemplo de Moisés e Arão, os quais, depois de pecarem contra o Senhor, não puderam entrar na Terra Prometida. Os dois irmãos foram instruídos por Deus a falarem à rocha, a qual, por sua vez, jorraria água. No entanto, ao invés de falarem à rocha, eles acabaram ferindo-a. Logo depois do ocorrido, a sentença divina foi determinada:

“Mas o Senhor disse a Moisés e a Arão: Visto que não crestes em mim, para me santificardes diante dos filhos de Israel, por isso, não fareis entrar este povo na terra que lhe dei. São estas as águas de Meribá, porque os filhos de Israel contenderam com o Senhor; e o Senhor se santificou neles.” (Números 20.12,13)

Logo depois de o Altíssimo determinar a consequência do pecado de Moisés e Arão, que era o fato de eles não poderem entrar em Canaã – a Terra da Promessa – Ele também determinou que Arão fosse imediatamente “recolhido”. A morte do sumo sacerdote foi antecipada por causa deste pecado nas águas de Meribá:

“Então, partiram de Cades; e os filhos de Israel, toda a congregação, foram ao monte Hor. Disse o Senhor a Moisés e a Arão no monte Hor, nos confins da terra de Edom: Arão será recolhido a seu povo, porque não entrará na terra que dei aos filhos de Israel, pois fostes rebeldes à minha palavra, nas águas de Meribá.” (Números 20.22-24)

Depois de Arão, foi a vez de Moisés morrer sem entrar na Terra Prometida. E, novamente, o Senhor recordou o motivo pelo qual isto aconteceria – o pecado cometido nas águas de Meribá:

“Depois, disse o Senhor a Moisés: Sobe a este monte Abarim e vê a terra que dei aos filhos de Israel. E, tendo-a visto, serás recolhido também ao teu povo, assim como o foi teu irmão Arão; porquanto, no deserto de Zim, na contenda da congregação, fostes rebeldes ao meu mandado de me santificar nas águas diante dos seus olhos. São estas as águas de Meribá de Cades, no deserto de Zim.” (Números 27.12-14)

Moisés chegou a orar, pedindo que Deus o deixasse entrar em Canaã, mas a sua herança foi diminuída no tocante a isto, e nada mais pôde ser feito. A nossa herança ministerial pode ser diminuída quando pecamos! Isto é um fato!

Iniciamos este estudo falando do contraste entre os filhos de Zadoque (que se conservaram fiéis ao Senhor) e os demais levitas (que se corromperam, servindo aos ídolos) e como a herança – natural – das terras ao redor do Templo foram dadas para se honrar aos sacerdotes santificados. Concluiremos agora, observando que um outro aspecto da herança – o espiritual – é determinado por essa mesma postura nossa de compromisso com Deus (ou não)!

Observe que os demais sacerdotes que pecaram foram como que “rebaixados” à função de meros levitas, sem poderem exercer todo o seu ofício ou tampouco desfrutar de todos os seus direitos sacerdotais:

“Os levitas, que tanto se distanciaram de mim quando Israel se desviou e que vaguearam para longe de mim, indo atrás de seus ídolos, sofrerão as consequências de sua iniquidade. Poderão servir no meu santuário como encarregados das portas do templo e também farão o serviço nele; poderão matar os animais dos holocaustos e outros sacrifícios em lugar do povo e colocar-se diante do povo e servi-lo. Mas, porque os serviram na presença de seus ídolos e fizeram a nação de Israel cair em pecado, jurei de mão erguida que eles sofrerão as consequências de sua iniquidade. Palavra do Soberano, o Senhor. Não se aproximarão para me servir como sacerdotes, nem se aproximarão de nenhuma das minhas coisas sagradas e das minhas ofertas santíssimas; carregarão a vergonha de suas práticas repugnantes. Contudo, eu os encarregarei dos deveres do templo e de todo trabalho que nele deve ser feito.” (Ezequiel 44.10-14 – NVI)

Por outro lado, os filhos de Zadoque, a linhagem chamada pelo Senhor de “casa firme”, pelo fato de que permaneceram fiéis (quando ninguém mais o fez), tiveram não apenas os seus direitos e funções preservados, mas também receberam a promessa de que desfrutariam da presença de Deus como ninguém mais:

“Mas, os sacerdotes levitas e descendentes de Zadoque e que fielmente executaram os deveres do meu santuário quando os israelitas se desviaram de mim, se aproximarão para ministrar diante de mim; eles estarão diante de mim para oferecer sacrifícios de gordura e sangue. Palavra do Soberano, o Senhor. Só eles entrarão em meu santuário e se aproximarão da minha mesa para ministrar diante de mim e realizar o meu serviço.” (Ezequiel 44.15,16 – NVI)

CONCLUSÃO

O entendimento destas verdades deve produzir temor em nossos corações e fazer com que haja em nós uma resposta mais intensa de consagração a Deus! Se a nossa herança – tanto na dimensão natural (Ez 48.10-14) como na dimensão espiritual (Ez 44.15,16) – é determinada pela nossa santificação, então devemos aprofundar o nosso compromisso com o Senhor! Esta é a única forma pela qual poderemos desfrutar da herança dos santificados! Você está decidido a desfrutá-la?